A luz pisca
mas é um engano da mente, são os olhos que piscam enquanto a vida corre, o mar
desmaia em suaves ondas ao meu redor e penso o porque de não querer escrever,
será do tempo ou falta dele nas noites em claro que passo a olhar o vazio,
saber não sei ou será que sei?
A luz machuca
e a sombra atrai-me não por malícia ou desconforto apenas porque é segura e
previsível, ao sol o perigo apronta-se e as miragens surgem. Há lugares na
mente que nunca deveríamos visitar e consoante a previsibilidade dessas visitas
o mar atrai-nos e a necessidade de o visitar pesa. Não importa o quão
avassalador o momento é, a sombra está sempre lá como uma criança pequena a
lembrar-nos de que não podemos fugir e a mascara cai sem intenção e
desmancha-se a teatralidade.
O silêncio
engole tudo.
O corpo
quebra, a dor abre-se como uma rosa na primavera e as pétalas dançam com o som
tamborilante das lágrimas que deviam pesar mas não pesam, porque não existem, a
dor gelou o coração e nem a exaustão sentimentalista que é o simples fato de
chorar lhe é permitido, porque a emoção foi-se, a mente desprovida de sensações
adorna o conceito medonho que é viver.
A amedrontada
criatura exalta-se e remexe-se no assento de pregos de que é feito os seus
pensamentos e a falácia reduz lhe a alegria a migalhas pegajosas, não há nada
que a reanime ou sol que aqueça ou vida que a faça respirar, tudo é negro, tudo
é nada.
Até que tu
vens, silencioso e preocupado com a ruga entre olhos que censura a minha
atitude, silenciosamente levantas me e abraças-me na escuridão soltando
pequenos sussurros que embora não os perceba claramente o carinho com que me
cantas é inconfundível e a solidez do gelo decompõe-se e a primavera surge em
mim e degelo corrompe-me e as lágrimas surgem, a criatura ganha vida numa
cascata de baba e ranho sem futuro aparente mas tu não me abandonas e lá
permaneces juntando os cacos do que resta de mim filtrando as lágrimas do meu
rosto e aquecendo a minha vida.
Como é bom
voltar a Primavera.